Páginas

Fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.

A vida de um louco. A mente de um maluco. O que pode surgir desse mar de Apreenção? Descubra aqui .


terça-feira, 27 de julho de 2010

Primeiras Divagações'

- Quem é você? Por que me prenderam aqui? - E ela continuava a falar. Mas no entanto não me ouvia.

A não ser que eu quisesse. Há muito as sombras me disseram que a meditação serve tanto para alcançar a paz interior quanto para bloquear pensamentos inoportunos. Lembro-me como se fosse hoje ainda. Elas se tornaram meus mestres no momento em que percebi toda a sabedoria que continham em si. Na época eu tinha apenas cinco anos. Não muito mais do que essa garota.

As sombras me apareceram aos três. Seis sombras me vieram a essa idade. Nessa época eu já era muito prematuro. Tinha dificuldade em me adaptar e conseguir amigos. As seis sombras me apareceram. Meu primeiro contato com as seguintes. Tive a audácia de contar para meus pais. Foi meu maior erro.

- Mãe! Mãe! Olha só meus novos amigos. Eles disseram que se chamam sombras. Eles não são lindos?

- Do que você está falando meu bem? - Ela parecia confusa. Mas apenas isso. Nada anormal. Ela sempre fora confusa com relação a mim. Desde meu primeiro ano de idade eu já era prematuro e incomum. Nunca tive uma infância comum. Uma sombra de esperança apareceu em seu rosto. Ela era tão inocente... O que é irônico. - Novos amigos? Isso é ótimo meu bem. Por que não me apresenta a eles.

- Venham pessoal. Quero que minha mãe possa conhecer vocês. Mãe, essas são as sombras. Sombras, Minha mãe.

- Onde eles estão querido? Não estou vendo ninguém.

- Aqui, mãe. Bem na sua frente.

"Ela não pode nos ver garoto."

- Como assim não pode ver vocês? Mas eu posso!

"Você é diferente... Sua mãe não é. Acostume-se. Não ligue para isso..."

- Eu não quero ser diferente.

- Com quem você está falando meu amor?

- Eu te disse. As sombras. - Ela mordeu o lábio inferior. "Não tem uma escolha entre ser diferente ou não. Mas entenda... Muitos dariam a alma para ser como você." - Por que não me descreve os seus amigos para eu saber o que procurar? Vai ver eu só não estou tentando o suficiente.

- Tudo bem! - Viu só? Ela só deve estar precisando de óculos. - Eles não tem uma forma certa... Ficam mudando de cor do nada... como um arco-íris, só que apenas uma cor de cada vez ao invés de todas de uma vez só. Quando estão irritados ficam de um vermelho tão vivo quanto o sangue.

- E como sabe de que cor é o sangue?

- É porque eles me mostraram um vídeo com uns médicos. Foi bem legal. Quando estão tristes ficam de um verde musgo. Eu sei porque eles também me mostraram num documentário sobre a natureza.

- E de que outras cores ficam? Fale meu bem.

- De todas as cores que puder imaginar e outras mais. Cores que não podem ser descritas em palavras. Cores muito bonitas. Cor-de-mar... Riacho, Lama, Fucsia. E outras mais... Tem certeza de que não os está vendo? - Fiz um beicinho. Ficava triste de ser diferente de outras pessoas.

"Não fique, meu jovem. Não fique." Como eles me ouviram? "Podemos ouvir tudo o que diz em pensamento. É um de nossos dons. É telepatia como chamam isso." Telepatia? Já ouvi falar. Mas não entendi na época. "Você era muito novo na época." Mas ainda sou novo agora. "E muito mais hábil."

- Ah! Acho que sei de que está falando, benzinho. Olá sombras. Como vão? Eu sou a mãe do seu amiguinho. Cores muito bonitas as suas. Ele tem razão. São cores magníficas.

"Ela está mentindo. Não está nos vendo. Está tentando apenas engana-lo." Como podem ter certeza? "Ah... nós escutamos os pensamentos de todos a nosso redor. É só você perguntar que diremos. Ela está mentindo. Portando prove que você sabe disso. Não a deixe te manipular desse jeito." As lágrimas encheram meus olhos. Mas minha mãe não viu. Eles tinham razão. Ela não tinha direito de fazer isso comigo.

- Desgraçada! Mentirosa... Eu te odeio. - Comecei a lhe bater e arranhar. - Ah! Por quê? Não é justo!


Ela me parou da melhor forma possível. Meus ataques aconteciam sempre que mentiam para mim. Eu não gostava de saber que era diferente... Mas isso não era desculpa para mentirem para mim. Eu sabia que eles achavam que eram apenas amigos imaginários. Eu sabia que mentiam para me fazer feliz. Mas quanto mais tentavam me agradar com coisas fúteis... mais ódio deles eu sentia. E mais violentos se tornavam meus ataques. Isso durou até os sete anos.

- Por quê? Me fale... Por quê? - Lucky. Claro. Epa. Havia me esquecido de sua presença. Eu tentava falar com ela, mas me perdi em lembranças. Iria lhe responder. Mas não falando. Que bom que eu aprendi a meditar. Fico feliz de ninguém ter ouvido nem visto o que acabara de pensar. Nem notariam. Eu coloquei pensamentos sobre as babás no lugar dos outros. A cada vez que meditava mudava a programação. Quase todos ouviram que eu estava pensando sobre a pobre garota.

Por que Lucky? Porque você é diferente. E as pessoas 'sãs' não suportam que ninguém seja diferente. Eu sou um amigo. Você vai ver. Vamos nos dar bem, eu acho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário